Ela já
não se entendia mais. Estava confusa. Com raiva. Muita raiva. Homem
era tudo canalha mesmo! Afinal, não faltava nada. Ele tivera
carinho, dedicação, até mesmo sexo, embora fosse pouco o tempo de
namoro e, mesmo assim, não largou da antiga namorada. Lógico,
desculpas apareceram, mas palavras ditas em desespero só resultam em
mais tragédias, e as dele não poderiam ter sido mais trágicas.
Muita coisa explicava, mas nada justificava.
Tudo
acabado, tudo resolvido? Uma ova! Depois de uma dessas o coração se
sente pesaroso; num ato extremo de ódio, fecha-se. Porém, o tempo é
como água calma, passa serenamente e vai se infiltrando mesmo por
onde não há espaços.
Surge
sempre um novo algo, com potencial para tornar-se amor. Um novo ele,
talvez. Dessa vez foi mais interessante do que as outras vezes, mais
suave. Pareceu-lhe mais correto. Ele deixara uma garota por ela, e
tinha álibi teoricamente confiável para confirmar.
No
entanto, houveram problemas dos jamais vistos antes. Aqueles que
sempre davam apoio, logo eles, os tão amados portos seguros,
finalmente manifestaram opinião contrária: muitos ela poderia
escolher, mas ele, não!
Mas tudo
era uma merda mesmo! Ela nem pensava em casamento ainda, muito embora
seja para esse fim que os namoros se guiem de uma forma geral. Por
que ele não? Qual o problema? Nada explica, nada nunca explicaria.
Daí ela
fez o que prometera jamais fazer, desviou-se dos portos seguros de
sua vida, girou o timão, guiou-se para os novos mares que se
apresentavam. Podia ser que sua nau afundasse em algum lugar distante
do seguro porto, mas sempre teria um bote, e um mapa de retorno.
Afinal, não haveria outra forma de ser feito, somente ela poderia
desbravar esses mares, e como saber das prometidas ilhas perfeitas,
senão navegando?
- Será
que há algo por essas águas que os portos já avistam e eu,
eternamente imatura, não consigo avistar? - perguntava-se a
aventureira, sabendo que sobre mares novos só há uma forma de
chegar a conclusões: navegando.
Nesses
mares, náufragos são apenas uma nova oportunidade de reconstruir
uma nau.